A Revolução Etíope de 1974: Ascensão do Derg e o Fim da Monarquia, Marcado por Tumulto Social e Desestabilização Política

A Revolução Etíope de 1974: Ascensão do Derg e o Fim da Monarquia, Marcado por Tumulto Social e Desestabilização Política

A história da Etiópia no século XX é um caleidoscópio fascinante de transformações, conflitos e revoluções. Entre os eventos que moldaram a nação, a Revolução Etíope de 1974 se destaca como um marco crucial, abrindo caminho para mudanças profundas na estrutura social, política e econômica do país. Esse levante popular, liderado por militares conhecidos como o Derg (Conselho Administrativo de Oficial), derrubou a monarquia milenar que durava séculos, marcando o fim do reinado do Imperador Haile Selassie I.

Para compreender a complexa teia que levou à revolução, é necessário mergulhar nas raízes históricas da Etiópia. A década de 1970 foi palco de uma crescente insatisfação social em relação ao regime imperial. O governo de Haile Selassie era criticado por sua autoritarismo, desigualdades sociais gritantes e a persistência de sistemas arcaicos que impediam o desenvolvimento econômico. A fome, agravada pela seca severa de 1973, evidenciou as falhas do sistema em garantir o bem-estar da população.

As sementes da revolta foram semeadas por um conjunto de fatores interligados:

  • Descontentamento Popular: A pobreza generalizada, a falta de acesso à educação e saúde, além da crescente disparidade entre ricos e pobres criaram um caldo de cultura propício à contestação.
  • Insatisfação Militar: Os militares, muitos dos quais proviam de famílias humildes, eram expostos às desigualdades sociais que vivenciavam os civis. Eles também sentiam a falta de reconhecimento por seu papel na defesa do país, principalmente após a Guerra da Eritreia (1961-1971).
  • Influência das Ideologias Modernizadoras: As ideias de socialismo e comunismo ganharam força entre setores da sociedade, especialmente entre jovens estudantes e intelectuais.

Em fevereiro de 1974, protestos em massa irromperam nas ruas da capital, Addis Abeba. Os manifestantes, compostos por estudantes, trabalhadores, agricultores e soldados insatisfeitos, clamavam por reformas políticas e sociais. O Derg, inicialmente formado para suprimir os protestos, acabou se unindo à causa popular, liderando um golpe de estado que culminou na queda de Haile Selassie em setembro de 1974.

O novo regime, sob o comando do General Mengistu Mariam, prometeu a construção de uma sociedade socialista igualitária. No entanto, a revolução não se traduziu no paraíso prometido. O Derg implementou políticas econômicas radicalmente socialistas, nacionalizando empresas privadas e coletivizando a agricultura. Essa intervenção estatal desencadeou graves consequências para a economia etíope, levando à estagnação do crescimento e à deterioração das condições de vida.

Além disso, o Derg instaurou um regime autoritário que sufocou qualquer dissidência política. O governo reprimiu violentamente os grupos de oposição, como o Movimento de Libertação Popular da Eritreia (MLEP) que lutava pela independência da região. A violência e a repressão tornaram-se marcas indeléveis do período pós-revolução.

A Revolução Etíope de 1974 deixou um legado complexo e controverso:

Impacto Positivo Impacto Negativo
Fim da monarquia absolutista Instauração de um regime autoritário
Introdução de reformas sociais (em teoria) Nacionalização forçada de empresas, levando à estagnação econômica
Promoção da igualdade entre grupos étnicos (em teoria) Repressão violenta de qualquer oposição política

A revolução marcou o início de um período turbulento na história da Etiópia, caracterizado por conflitos internos, fome e instabilidade política. O legado do Derg continua a ser debatido até hoje, com alguns historiadores destacando as tentativas, albeit falhas, de modernização social, enquanto outros condenam a violência e o autoritarismo do regime.

A Revolução Etíope de 1974 é um exemplo poderoso de como as revoluções podem ter consequências imprevisíveis e complexas. Ela demonstra que o desejo por justiça social e igualdade pode ser instrumentalizado para fins autoritários, e que a busca pela transformação social exige cuidado, diálogo e respeito pelas liberdades individuais.

A história da Etiópia oferece lições importantes sobre os desafios da modernização e a fragilidade das instituições políticas. É um lembrete constante de que a luta por justiça social é um processo contínuo e complexo, que requer a participação ativa de todos os setores da sociedade para alcançar um futuro mais justo e equitativo.